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Tradição do Boi da Floresta inspira coleção com identidade cultural e geração de renda em projeto apoiado pela FAPEMA e SEBRAE

Um projeto que alia memória viva, design colaborativo e cultura popular, valorizando o bumba meu boi, uma das mais destacadas manifestações do São João maranhense. Trata-se da pesquisa ‘Boi da Floresta em produtos por meio do design para inovação social: a produção de uma coleção com os artesanatos do boi’, de Talyene Cruz Melônio, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do edital Economia Criativa, que tem a parceria do Sebrae. a, mestra em Artes Cênicas pela Unirio, produtora cultural e fundadora da Preta Cultura e Arte, a pesquisadora tem forte vínculo com a brincadeira, fruto de tradição familiar, na coordenação do Memorial Apolônio Melônio, personalidade histórica do Maranhão.

Tendo como pano de fundo o Boi da Floresta, o projeto parte de uma abordagem de inovação social orientada pelo design. A pesquisadora se debruça em uma coleção de produtos inspirados na iconografia (ícones, símbolos, logotipos e outros elementos visuais) e nas técnicas artesanais da brincadeira, que se originou no Quilombo Urbano Liberdade. A proposta se ancora em práticas colaborativas entre a comunidade e profissionais especializados, e já culminou em uma coleção piloto, oficinas de capacitação e na construção de uma identidade visual autêntica.

“Queríamos transformar a memória da brincadeira em algo vivo e economicamente sustentável. Assim, o projeto se firma como referência em inovação social e patrimônio imaterial, demonstrando que o São João do Maranhão é também espaço de criação, transformação e pertencimento. Nesse sentido, o e da FAPEMA nos auxiliou muito, ao possibilitar a realização de oficinas, a mobilização da comunidade, a formação técnica dos participantes e a prototipação dos produtos”, afirma Talyene Melônio.

A ideia do estudo nasceu do desejo coletivo da comunidade do Boi da Floresta, liderada atualmente por Mestra Nadir Cruz, mãe da pesquisadora, de manter viva a memória de Mestre Apolônio Melônio – figura central na criação do grupo, em 1972. Esse impulso se materializou na criação do Memorial Apolônio Melônio, que reúne acervos e práticas culturais, e ganhou corpo com a parceria do NIDA – Grupo de Pesquisas Narrativas em Inovação em Design e Antropologia, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O NIDA é especializado em design de base comunitária e produtos com identidade cultural

“A atuação do NIDA, ao longo de mais de uma década, tem consolidado uma expertise singular em design orientado ao patrimônio imaterial. Neste caso, se expressa na criação de produtos capazes de dialogar com a tradição, sem reduzi-la a mercadoria, promovendo sua reatualização crítica. Portanto, a pesquisa mostra o Boi da Floresta para além de uma brincadeira junina, mas sendo expressão de resistência afro-maranhense com um legado que vem sendo resgatado e projetado no futuro”, explica Talyene Melônio. 

Contemplado no edital Economia Criativa, resultado da parceria Fapema e Sebrae, o projeto conseguiu digitalizar parte do acervo histórico do grupo, utilizando tecnologias de inteligência artificial generativa, entre outras. Também foram desenvolvidos uma série de produtos com forte apelo estético e narrativo, como camisetas, órios, objetos decorativos e papelaria. O processo de levantamento e digitalização do acervo – com fotografias, documentos e memórias orais – permitiu mapear a riqueza simbólica do grupo, resgatando histórias esquecidas e tornando visíveis os elementos que compõem sua estética singular. Essa metodologia participativa garantiu protagonismo à comunidade do Boi da Floresta, que foi chamada a participar do processo produtivo, em todas as suas etapas.

“Esse projeto é um exemplo potente de como design e cultura podem andar juntos de forma ética, promovendo inovação com raízes e identidade. Estamos somando para estruturação de um futuro que respeita e valoriza o ado. Nosso objetivo é transformar memória em futuro, e cultura em trabalho digno. Estamos estruturando um modelo replicável de valorização cultural, com base na inovação social”, conclui Talyene Melônio.

Para o presidente da FAPEMA, Nordman Wall, o Maranhão tem na sua cultura popular uma das maiores riquezas simbólicas do Brasil. “Sendo assim, a promoção de projetos com este viés é também uma forma de contribuir para a autonomia das comunidades, incentivar a economia criativa e principalmente, valorizar e manter viva nossa herança cultural”, avalia.

Entre as próximas etapas da pesquisa estão a produção da coleção final, consolidação do ponto de venda que será vinculado ao Memorial Apolônio Melônio, o lançamento da marca em redes sociais e em eventos estratégicos. E ainda, a criação de uma microestrutura de produção artesanal ofertando cursos de serigrafia e costura, que irá funcionar no território do Boi da Floresta. O projeto tem ainda como meta, o fortalecimento da cadeia produtiva local e a valorização simbólica e econômica da cultura afro-maranhense. As peças podem ser adquiridas na sede do Boi da Floresta, que fica na rua Tomé de Souza, n-101, bairro Liberdade e em contato com a coordenadora responsável, Ana Karina, pelo ‪(98) 98186‑0399.